Como se nada fizesse sentido, viu o pôr do sol amarelado, lembrou-se de algo? Não sabe. Era um mundo azul, cheio de faces, um mundo vazio que não preenchia, não encontrou paz, não encontrou vida. Era um mundo pequeno, onde as pessoas não se conheciam, um mundo onde tudo era distante. Há tempos não sabia o que era sentir, tudo o que sabia era que existia e estava ali. Lembrava-se de um calor, mas agora não o tinha mais, não conseguiu entender, ascendeu uma fogueira, queimou, mas não aqueceu, o frio que sentia vinha de dentro e aos poucos tirava-lhe o fôlego de vida que ainda restava. Perdeu-se em meio a tudo, vagou em busca de si mesma, afundou sozinha naquele mar que a sufocava, não encontrou o ar que lhe faltava, não teve ajuda como esperava, somente afundou, devagar, sem lutar, sem tentar, afogou-se sozinha num mar salgado que havia criado. Cansada, fechou os olhos e flutuou, sorriu, enfim estava livre do fardo que carregava, agora, no fundo daquele mar, sem ar, sem vida, era feliz, sentiu novamente o calor que há muito procurava, e que só agora encontrava. Não aconselho que julgues a sua dor, pois quem não sentiu, não saberá porque existiu, não queira dar sentido à coisas que não se explicam. A dor que sentia foi maior que a vida, não suportou ser quem era, não reconheceu seu reflexo, não quis estar ali, não tentou sair, mas como explicar? Justificar? Julgar? Não pode, não dá. Somente quem sentiu saberá que existiu, somente quando fechar os olhos e flutuar em seu próprio mar saberá explicar.
Dayana Couto