Todas as manhãs eu acordo atrasada, tomo meu banho, como
alguma coisa, e saio. Vou sempre pelo mesmo caminho, sempre no mesmo horário, e
ao dobrar a esquina, encontro sempre a mesma senhora sentada na calçada, com
sua cadela ao lado, usando sempre o mesmo vestido azul, com os cabelos
molhados, dando a impressão de que acabaram de ser lavados, todas as manhãs ela
está lá, mas eu nunca a vi sorrir. Sua expressão facial é sempre imparcial, tem
sempre a cara de quem acordou a pouco tempo. Certo dia sai decidida a dar-lhe
um sorriso, ou um bom dia quem sabe, então eu fui, e quando dobrei a esquina,
ela estava lá, me preparei então para dar-lhe um sorriso, e dei, mas recebi
apenas um olhar estranho em troca, isso não me frustrou, nem me deixou
chateada, na verdade, foi engraçado. Eu não tinha desistido ainda, no dia
seguinte, eu tentaria lhe dar um bom dia, e assim eu fiz, mas, não houve resposta
para o meu cumprimento, continuei o meu caminho de todos os dias. No dia
seguinte, pensei: Não é possível que eu não consiga lhe arrancar nem um sorriso!
Sai Novamente decidida, dobrei aquela esquina pela milésima vez, olhei bom nos
olhos da senhora e disse: Bom dia! Ela me olhou, e continuando calada, fez
somente um gesto com a cabeça, bem, isso já me deixou feliz ao menos, ela havia
mexido a cabeça. Passei o dia inteiro com um sorriso maroto no rosto, eu estava
me sentindo feito uma criança naquele momento.
O sol nasceu como nasce todas as manhãs, logo eu já estava dobrando
aquela esquina novamente, e fitando a senhora misteriosa que se negava a me dar
um sorriso, dessa vez eu lhe dei o meu melhor sorriso, e ela apenas fez um
gesto com a cabeça. Tá legal, aquilo já estava me irritando, qual a dificuldade
de retribuir um sorriso? Resolvi que na manhã seguinte eu não lhe
cumprimentaria, e assim eu fiz, passei pela rua e fingi não ter visto a senhora,
mas, após caminhar um pouco, não resisti, tive que olhar para trás, para minha
surpresa, a senhora me olhava com olhos curiosos e desconcertados, os olhares
se cruzaram, e ela rapidamente tratou de endurecer sua expressão novamente. Aquela
cena foi engraçada, me fez rir. E lá vem ele de novo, trazendo a luz do dia,
clareando os nossos caminhos e nos dando seu calor, sim, o sol já brilhava
majestoso no céu. Dobrei a esquina, e lá estava ela, sentada, com seu vestido
azul, seu cabelo molhado e sua cadela fiel, passei bem devagar por aquela
intrigante senhora, olhei em seus olhos e disse-lhe mais uma vez: Bom dia! E
para minha surpresa, ela me olhou de volta, deu-me um largo sorriso e
respondeu: Bom dia!
-Dayana Couto
Imagem Retirada de: https://www.google.com.br/search?q=reencontro&biw=1366&bih=667&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiJiOeI4NTMAhWEh5AKHQPdC6YQ_AUIBigB#tbm=isch&q=idosa+nordestina&imgrc=APCcotpkbcsq_M%3A
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